... Engraçado, há alguns dias fui a um "pubzinho", cujo tema da noite eram os anos 80. Uma banda muito boa tocava Blitz, Cazuza, RPM, Legião Urbana, e vários outros clichês do Rock e Pop nacional daquela época. Nisso, haviam muitos "tios" que provavelmente tiveram sua juventude e seus sonhos embalados por aquelas músicas vibrando muito e dançando com aquele som. Não que Rock Pop Nacional seja meu estilo predileto, mas aquilo me chamou a atenção. Será que música me fará lembrar de tempos vividos, quando for tio? Será que temos produzido algo digno de ser rememorado no futuro? Será que terei a oportunidade de suscitar uma espécie de inveja orgulhosa no meu filho ao dizer " Ai moleque, zuei muito ouvindo essas músicas"? E aquele orgulho que todo filho sente ao se identificar com algo que o pai viveu e que ele agora em seu tempo está a conhecer? Temos sim muita música boa rolando no cenário "alternativo", mas essas, provavelmente eu ouvirei com ele em casa, e não em um pub lotado de pessoas dançando, com tios
voltando a usar seus olhares que outrora seduziram várias mocinhas, e as tias dançando como quando portavam seus belos corpos rígidos e juvenis. Não que os olhares não dêem mais certo, ou que os corpos não mais seduzam, aquilo tudo tem sua beleza. Mas o ponto aqui, é a música que revitalizava àqueles que dançavam e trocavam olhares. Eles o faziam, por que tinham algo com que se identificar, e ao ouvirem aquelas músicas se sentiam mais vivos e jovens. Mas volta a pergunta, o que eternizará a minha geração? O que vou ouvir em um pub daqui alguns anos que me será o "elixir da juventude"? Não estou falando de música rebuscada, cheia de técnica ou vestida em "back tie". Estou falando de música boa, porém, acessível a todos e que valha a pena de se rememorar no futuro. O engraçado é que vivemos em um tempo onde tudo é tão rápido, acessível e moderno, mas ao mesmo tempo com um pé, ou boa parte do corpo,no passado, só que de cara nova. O problema é que junto com rapidez e acessibilidade, vem a produção em grande escala e a massificação. E com a facilidade de aquisição, vem o facilmente descartar. E quanto a qualidade? Essa deixa cada vez mais desejar. O por que de eu estar dizendo tudo isso? Pois não é diferente com a arte. Esta nada mais é que um retrato pelo qual expressamos nossos sentimentos, e é intimamente influenciada pela realidade em que vivemos. Uma paisagem que na antiguidade era retratada a custa de inúmeras pinceladas, hoje está ao alcance de um "clic" e algumas alterações do cool "stangran", a música que outrora exigia algum comprometimento intelectual e técnico para se produzir, hoje é possível com um computador básico, alguns programas e uma mente com, eu reconheço, alguma criatividade para criar letras monossilábicas e que suscitem um sentido dúbio e de cunho sexual na mente dos que as escuta. Não que eu seja contra a modernização e o quanto ela facilitou a criação nos dias de hoje. A questão é que não temos que engolir tudo que nos é posto a mesa sem a menor reflexão. Essa é a razão de tanta coisa intragável sendo oferecida e valorizada nos dias de hoje. A "arte" segue esta tendência descartável, como se tudo estivesse vulnerável e suscetível a simples formatação de um computador. Temos que valorizar o que é produzido sobre um alicerce forte, com anos de estudo, desenvolvimento cultural e intelectual. Assim teremos o que chamar de nosso e no futuro, quando for a um pub cuja temática da noite seja o início do século XXI , terei do que me orgulhar e me alegrar ao rememorar. No entanto, por hora, fica aqui o meu protesto, pois o Camaro da música, que hoje é amarelo, foi criado nos anos 60, e a primeira Land Rover, em 48, naquele tempo o lema era "made strong to last long". Já nos dias de hoje, na velocidade da "banda larga" nada mais dura tanto. Segue-se a tendência do descartável e incerto. Não seria diferente com "rit" de hoje ou o "tchê tchê rere que toca sábado na balada".E talvez a incerteza seja algo bom, pois traz esperança, eu só sei que diante do atual cenário musical eu prefiro um Camaro 68.