sábado, 6 de outubro de 2012

Camaro 68

‎... Engraçado, há alguns dias fui a um "pubzinho", cujo tema da noite eram os anos 80. Uma banda muito boa tocava Blitz, Cazuza, RPM, Legião Urbana, e vários outros clichês do Rock e Pop nacional daquela época. Nisso, haviam muitos "tios" que provavelmente tiveram sua juventude e seus sonhos embalados por aquelas músicas vibrando muito e dançando com aquele som. Não que Rock Pop Nacional seja meu estilo predileto, mas aquilo me chamou a atenção. Será que música me fará lembrar de tempos vividos, quando for tio? Será que temos produzido algo digno de ser rememorado no futuro? Será que terei a oportunidade de suscitar uma espécie de inveja orgulhosa no meu filho ao dizer " Ai moleque, zuei muito ouvindo essas músicas"? E aquele orgulho que todo filho sente ao se identificar com algo que o pai viveu e que ele agora em seu tempo está a conhecer? Temos sim muita música boa rolando no cenário "alternativo", mas essas, provavelmente eu ouvirei com ele em casa, e não em um pub lotado de pessoas dançando, com tios
voltando a usar seus olhares que outrora seduziram várias mocinhas, e as tias dançando como quando portavam seus belos corpos rígidos e juvenis. Não que os olhares não dêem mais certo, ou que os corpos não mais seduzam, aquilo tudo tem sua beleza. Mas o ponto aqui, é a música que revitalizava àqueles que dançavam e trocavam olhares. Eles o faziam, por que tinham algo com que se identificar, e ao ouvirem aquelas músicas se sentiam mais vivos e jovens. Mas volta a pergunta, o que eternizará a minha geração? O que vou ouvir em um pub daqui alguns anos que me será o "elixir da juventude"? Não estou falando de música rebuscada, cheia de técnica ou vestida em "back tie". Estou falando de música boa, porém, acessível a todos e que valha a pena de se rememorar no futuro. O engraçado é que vivemos em um tempo onde tudo é tão rápido, acessível e moderno, mas ao mesmo tempo com um pé, ou boa parte do corpo,no passado, só que de cara nova. O problema é que junto com rapidez e acessibilidade, vem a produção em grande escala e a massificação. E com a facilidade de aquisição, vem o facilmente descartar. E quanto a qualidade? Essa deixa cada vez mais desejar. O por que de eu estar dizendo tudo isso? Pois não é diferente com a arte. Esta nada mais é que um retrato pelo qual expressamos  nossos sentimentos, e é intimamente influenciada pela realidade em que vivemos. Uma paisagem que na antiguidade era retratada a  custa de inúmeras pinceladas, hoje está ao alcance de um "clic" e algumas alterações do cool "stangran", a música que outrora exigia algum comprometimento intelectual e técnico para se produzir, hoje é possível com um computador básico, alguns programas e uma mente com, eu reconheço, alguma criatividade para criar letras monossilábicas e que suscitem um sentido dúbio e de cunho sexual na mente dos que as  escuta. Não que eu seja contra a modernização e o quanto ela facilitou a criação nos dias de hoje. A questão é que não temos que engolir tudo que nos é posto a mesa sem a menor reflexão. Essa é a razão de tanta coisa intragável sendo oferecida e valorizada nos dias de hoje. A "arte" segue  esta tendência descartável, como se tudo estivesse vulnerável e suscetível a simples formatação de um computador. Temos que valorizar o que é produzido sobre um alicerce forte, com anos de estudo, desenvolvimento cultural e intelectual. Assim teremos o que chamar de nosso e no futuro, quando for a um pub cuja temática da noite seja o início do século XXI , terei do que me orgulhar e me alegrar ao rememorar. No entanto, por hora, fica aqui o meu protesto, pois o Camaro da música, que hoje é amarelo, foi criado nos anos 60, e a primeira Land Rover, em 48, naquele tempo o lema era "made strong to last long". Já nos dias de hoje, na velocidade da "banda larga"  nada mais dura tanto. Segue-se a tendência do descartável e incerto. Não seria diferente com "rit" de hoje ou o "tchê tchê rere que toca sábado na balada".E talvez a incerteza seja algo bom, pois traz esperança, eu só sei que diante do atual cenário musical eu prefiro um Camaro 68.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Divagando Sobre o Corpo

Curioso o Ser Humano, um emaranhado sem tamanho, ora pelo, ora cabelo, tem artelho e tornozelo,  ora duro, ora macio, ora terno, ora arredio. Isso sem falar na mente que nos leva além da gente, abre portas pra outros mundos ou nos torna moribundos. Ela manda e o resto faz quer pra frente ou pra trás,  não me esqueço dos ouvidos, onde os sons são percebidos. Também da pra se comunicar, seja por gestos ou com o falar, se souber pode cantar, pintar, dançar ou interpretar, tudo pra se expressar. A quão bom é o olfato, que discrimina o odor no ato, avisando se irá agradar, bem antes do paladar. Também causa excitação, por bom perfume aguçando a imaginação. Corpo grande ou pequeno, pode também ser mais ou menos, todos nos dão oportunidades mil, quer magrinho ou um barril. Com ele se pode correr, se pode saltar, se pode escrever, dirigir ou escalar, se pode sorrir ou se quiser chorar, depende da ocasião, dar um abraço no amigo ou irmão, estudar e se formar, ou de uma lavoura cuidar. Tudo se aprende desde pequeno, de menino ainda tenro, copiando ao olhar, com os olhos a observar, aproveitando a cada ocasião e repetindo  até se ter de coração. E por falar em coração o qual que se desconhece a função, ao menos aquela que transpõe o "sistole-diastolizar" que mesmo sendo tão simples ação, incumbe-se dar a vida manutenção. Mas quanto a suas funções mais profundas, não se entende, só se confabula. Quando muita alegria se sente, dizem  logo que é a dopamina agindo na mente, mas ao se questionar uma mãe que por seu filho passa aflição, logo esta diz que o aperto é no coração. E quanto ao casal apaixonado, que além de terem um ao outro no coração guardado, ainda tem borboletas no estomago, que produzem um sopro, diferente do ronco. Eu poderia me propor a ainda mais divagar, passar a noite toda com minhas falanges a digitar, falar de rins, baço, medula, calcanhar, hipotálamo, hipófise, tireoide e o bocejar, viajar nas veias, me embalar pelo fluxo das artérias, ou ao invés de vibrar com meu time, agradecer pelo meu timo, cuja defesa nunca falha. Poderia pensar na simetria, na maravilha da embriologia que a todos cria, ou mesmo ir além até chegar na fecundação, onde óvulo e espermatozoide ao se unirem dão origem a um embrião. Mas visto que sou de carne e osso, e me diferencio das máquinas com muito gosto, em certo momento tenho que parar, colocar todo esse aparato pra descansar, descansar ao menos parte do corpo e a imaginação, uma vez que os órgãos vitais, mesmo quando durmo, ainda exercem sua função.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O rabisco!

  
 Para que pois que me serve o risco? Se visto que posto parece um cisco, mas entre um e outro algo logo começa a formar. E vem do nada, como se fora dom de fada ou mago místico a criar.
Como um ferreiro que em pedra bruta soa, pois batendo o som ecoa e uma espada põem-se a forjar.
E dá-lhe traços, e de pedras adorna-lhe o braço e o corpo com lamina singular.
E assim a palavra se cria, e do risco rabisco que outrora cisco agora põem-se a significar, e esta também corta. Corta, machuca, tortura, afaga, transtorna, alarga. Rabisco que se rico em riscos, e se ternos podem afagar. E não é por nada, meio que sem intenção, do nada torna-se um turbilhão e na cabeça do moço um tufão sua mente começa a mudar. E o que era outrora acaso agarrou-lhe a mente, num vaso e pulsa como se a lhe determinar.
E já não é como antes. Já não pode com outras palavras, que juntas ideias não raras a cabo de persuasão. E que levam cativas a mente de gente que vive carente a custa do circo e do pão.
Vai-te! abre-lhes pois a mente, para que de risco inocente venha a forjar-se em canhão. Canhão, escudo e espada. Junte pois o fogo e a brasa e encandece a palavra no coração. Marca-lhes! Marca-lhes pois bem profundo, para que ao ganhar-te o mundo possam todos saber de onde vem. Que é daqui, é daqui do sertão, do agreste, do cerrado que o meu Deus me deste de onde tiro a inspiração. É no moço que vai moribundo, no menino que se vê ao fundo, em um quadro chamado viver, onde a moça espera o amado, o garoto caminha descalço e o cachorro põem-se a ladrar. Onde ao fundo ecoa singela, a canção que tão simples e bela na medida que devia ser, pois envolve hermeticamente, o cenário que o moço prudente com rabiscos põem-se a descrever. E retorna ao ponto de início, questionando pra que me serve o risco e o rabisco se não faz crescer, nessa terra que se chama mente, a ideia que aqui se entende da importância de uma oração, que moldando começa na mente, mas bem rápido ao corpo se estende, alojando-se no coração.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O tempo andava me comendo!

...quem tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele soprando sulcos na pele soprando sulcos?
o tempo andou riscando meu rosto
com uma navalha fina
sem raiva nem rancor
o tempo riscou meu rosto
com calma
(eu parei de lutar contra o tempo
ando exercendo instantes
acho que ganhei presença)
acho que a vida anda passando a mão em mim.
a vida anda passando a mão em mim.
acho que a vida anda passando.
a vida anda passando.
acho que a vida anda.
a vida anda em mim.
acho que há vida em mim.
a vida em mim anda passando.
acho que a vida anda passando a mão em mim
e por falar em sexo quem anda me comendo
é o tempo
na verdade faz tempo mas eu escondia
porque ele me pegava à força e por trás
um dia resolvi encará-lo de frente e disse: tempo
se você tem que me comer
que seja com o meu consentimento
e me olhando nos olhos
acho que ganhei o tempo
de lá pra cá ele tem sido bom comigo
dizem que ando até remoçando...

(Viviane Mosé)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Saltimbancos


"Nós gatos já nascemos pobres, porém já nascemos livres...”. De onde veio a ideia que precisamos de tanto para sermos felizes, se a liberdade não nos custa nada? E quem por se preocupar pode acrescentar um dia se quer a sua vida? "vejam as flores do campo, elas não trabalham e nem fazem roupas para si, mas nem Salomão, sendo tão rico, usava roupas tão bonitas como uma dessas flores".
Ao longo do desenvolvimento da sociedade ocidental, fomos catequizados a relacionarmos dias melhores com vitórias, prosperidade, dias floridos e sem tristeza. Ao passo que se estivesse ao nosso alcance, untaríamos os umbrais das nossas portas para que esta nunca chegasse aos nossos lares. Mas qual o grande chef  não lida com o antagonismo dos temperos? quem foi que disse que devemos estar sempre alegres? E onde está o pecado dos problemas? Todos os dias somos bombardeados com mensagens ufanistas de fórmulas mágicas da alegria, que bem aos moldes do sistema vigente "movem mundos" com promessas de mudar nossa vida. A roupa de grife que nos tornará mais bonitos, o carro que nos afirmará perante a sociedade, o "kit status" que mostrará a todos a nossa volta o quanto temos prosperado. Ah, isso sim são dias melhores! Mas a que preço todo esse conforto? E quanto aos sub-produtos deste consumo desmedido? Vivemos em um castelo de cartas, onde as figuras ilustradas são belas. Belas a ponto de  nos fazerem esquecer da sua fragilidade, da nossa fragilidade, de tanta futilidade a mercê dos ventos a ludibriar-nos para  não galgarmos por caminhos mais sólidos. Caminhos estes onde podemos ser nós mesmos, sem nos preocuparmos com o que vão pensar, caminhos onde a igualdade vive em meio às diferenças e o respeito mutuo é real. Caminhos, onde somos valorizados por apenas sermos, e o amor ao próximo simplesmente acontece sem esperar nada em troca. Neste caminho, o meu conforto não tem como alicerce pessoas vivendo em condições sub-humanas do outro lado do mundo, ou atrás de uma redoma de vidro para que os nossos olhares não se cruzem! Mas pra que mudar? Aqui temos tudo o que queremos. Desde que Mantenhamos as portas de nossos carros hermeticamente lacradas, e observemos se não estamos invadindo ruelas entre linhas vermelhas, amarelas em "horário comercial" dos nossos simpáticos "profissionais liberais", os traficantes! Vivemos bem, se pagarmos por cartas blindadas para o nosso castelo e segurança extra, que reforça o nosso ingênuo sentimento de segurança.
Mas ante toda essa parafernália tecnológica, essa correria em busca do nada e essa ânsia por vitória, tudo maquiado, bem arquitetado, trasvestido de busca por dias melhores. Eu prefiro me abster! Pegar o meu violão, quem sabe uma vida na flauta então? Sair pelo caminho como um saltimbanco que prefere a uma vida pobre, porém livre a mercê da lua. E talvez, se eu for abençoado, o velho fraco se esqueça do cansaço e dance, a moça que outrora feia, ao se debruçar na janela descubra-se bela, e a gente que era sofrida despeça-se da dor para sempre, ao me ver passar cantando coisas de amor. Enquanto ao fundo, um refrão que diz; “eu que já não quero mais, ser um vencedor, levo a vida devagar, pra não faltar amor”.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Sir Inexorável!

Certa vez ouvi um sábio dizer que o destino era inexorável. E desde então tenho pensado no significado dessas palavras. Ao pé da letra inexorável é algo que não se dobra e nem se move a rogos e súplicas, características de um nobre “Sir” que governa com mãos firmes o seu reino. Mas o que tudo isso tem a ver com o destino? Um pouco mais de reflexão e logo me dou conta que, talvez, tudo. A cada dia que me é permitido na terra percebo o quão frágeis somos nós. Como porcelana rara e sobre maneira frágil somos nós aqui na terra. Porcelana que sob um manejo descuidado logo se desfaz e que por este “Sir” inexorável, não nos é permitido reparar. Talvez fazer diferente, mas nunca reparar. E tudo isso nos molda a cada dia e forma o que somos e o que seremos.Pensando no destino como este “Sir” inexorável penso também em súditos. Cavaleiros súditos, que cumprem os desejos de seu Senhor. Que tal, Vida, Tempo e Morte.
A vida é o cavaleiro que, encare você como divino ou não, nos apareceu como dádiva. Sem nenhuma intervenção de nossa parte. O tempo é um cavaleiro que não importa o quanto nos esforcemos, não há como ludibriá-lo, ele estará sempre lá, aos pés da nossa cama pela manhã, querendo saber o que faremos daquele novo dia. Seja este dia ensolarado, daqueles que nem precisamos de muita criatividade para tirarmos dele o melhor proveito, ou um dia sombrio, do qual nos achamos no direito de "pará-lo"  para aproveitarmos o nada do ócio. Já o cavaleiro morte, é a resposta que damos a dádiva da vida. É apenas o produto dos dias ensolarados e dos momentos de ócio em meio ao sombrio.
E a conclusão que tirei de tudo isso? Que a vida, é como um reino controlado por um "Sir" inexorável que é o destino! E que não quero uma vidinha mais ou menos, assim meia boca. Eu quero Vida. Muita Vida! Vida sabendo da Morte. Por que o Tempo? Este não para! Mas que não pare mesmo. Quero mais é que corra, mas corra muito! Como se fosse um novo sedan embalado ao som de uma boa música. E quando este me fizer chegar ao fim da estrada, quero ter no bagageiro as experiências que vivi e as batalhas que combati. No banco traseiro os amigos e a família que estiveram comigo durante a corrida e ao lado a pessoa que amei e que por existir causou em mim tamanho contentamento. Neste dia, não quero na consciência o peso de uma vida descomprometida, dada ao nada de dias em ócio, ou ao ativismo em busca do nada. Quero desde hoje até aquele dia, ter o compromisso de todos os dias ao acordar saber reconhecer a beleza da manhã, o perfume da rosa, à singeleza de um gesto.
Para que ao fim, ciente deste “Sir” inexorável destino, enquanto sou aspergido como aroma suave ao Senhor, tenha a honra de dizer, combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.